Cadernos de Campo (São Paulo - 1991) | 2021
Doença de Alzheimer e vida religiosa consagrada: uma etnografia de afeto e espanto
Abstract
Este trabalho buscou compreender como a vida religiosa influencia nos modos pelos quais um grupo de Irmãs católicas percebe e vive a doença de Alzheimer. O objetivo foi acompanhar a ontologia múltipla da doença sendo feita, no cotidiano, através das práticas, afetos e silêncios na Residência em que moram. A valorização do pós-morte e da trajetória religiosa traz interpretações próprias para a enfermidade, dissolvendo alguns temores e acolhendo sintomas, numa relação entre doença, velhice, cuidado, gênero e religião. Ao articular duas vertentes analíticas - corporalidade e selfhood -, busco apreender como esses corpos em processo demencial percebem o mundo e atravessam a experiência com a doença quando inseridos em um contexto religioso, e como o meu próprio corpo se deslocou em campo. Por fim, mostro como as imagens – fotografias e desenhos – foram importantes para entrar no mundo tanto da demência quanto da religião, a fim de ver e ouvir o que os silêncios não me deixaram encontrar, no início.