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command intonation in Brazilian Portuguese: a dialectal description from ALiB corpus

 
 
 
 

Abstract


In this paper, we described the command intonational contours in the twenty-five Brazilian capitals included in the corpus “Linguistic Atlas of Brazil” (ALiB). This work aims at: (i) describing the intonational contour of twenty-five capitals from the corpus ALiB; (ii) comparing the intonation of the directive speech acts in the five Brazilian regions and (iii) proposing a phonological representation of the variation of this contour. Our corpus is composed of fifty imperative utterances produced by male and female speakers of the analyzed capitals. We observed that there is a predominance of a rising F0 movement in the prenucleus of the command contours with the phonological notation L*+H or L+H* in the twentyfive Brazilian capitals. In the nuclear position, the pitch accent can be defined for the majority of the capitals as H+L*L%, a falling F0 movement, with the variant H*L% for the capital Belém (PA). The capital that presented a different F0 movement in the nucleus was Florianópolis (SC) that showed the predominance of a rising-falling F0 movement represented as L+H*L%. Key-words: Intonation; Command; Dialectology; Brazilian Portuguese; ALiB. 1 Introdução Searle (1969/1995) considera o ato de fala como a unidade mínima da comunicação linguística que engloba as diferentes ações que podem ser realizadas pela linguagem. O autor desenvolve uma abordagem da teoria dos atos de fala tendo como foco principal a caracterização do ato ilocucionário, isto é, o ato que se realiza no momento em que o enunciado é proferido. Conforme estabelece Searle (1995: 2), os atos ilocucionários são compostos por sua força ilocucionária e por seu conteúdo proposicional. A partir dessa composição de todo ato ilocucionário, Searle (1995) propõe uma taxonomia para os atos de fala, a saber: (i) assertivos, (ii) diretivos, (iii) compromissivos, (iv) expressivos e (v) declarativos. O objetivo de cada uma dessas cinco categorias, respectivamente, pode ser resumido na seguinte citação: Se adotamos o propósito ilocucionário como a noção básica para a classificação dos usos da linguagem, há então um número bem limitado de coisas básicas que fazemos com a linguagem: dizemos às pessoas como as Gomes da Silva, Miranda, Carnaval e Cunha JoSS 5(2): 29-45. 2016. coisas são, tentamos levá-las a fazer coisas, comprometemo-nos a fazer coisas, expressamos nossos sentimentos e atitudes, e produzimos mudanças por meio de nossas emissões. (SEARLE, 1995, p. 46, grifo nosso). Estudos realizados para o Português Brasileiro, variedade carioca, como os de Moraes (2008, 2011), revelam que a entoação é um dos mecanismos utilizados para distinguir os atos de fala, mesmo quando há pouco material linguístico no enunciado (COELHO & CARNAVAL, 2013). Pretendemos descrever, neste trabalho, o contorno entonacional das frases imperativas enunciadas como ordem, nas 25 capitais brasileiras do Projeto “Atlas Linguístico do Brasil”, distribuídas pelas 5 regiões do Brasil, a saber: na região norte, Manaus, Rio Branco, Macapá, Belém, Porto Velho e Boa Vista; na região nordeste, São Luís, Teresina, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju e Salvador; na região centro-oeste, Cuiabá, Campo Grande e Goiânia; na região sudeste, Rio de Janeiro, Vitória, Belo Horizonte e São Paulo; por fim, na região sul, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Após essas breves considerações sobre os atos de fala diretivos, em (2) conceitualizamos a entoação, os modelos entonacionais e os estudos que guiam nossa descrição e análise. Em (3) apresentaremos o Projeto “Atlas Linguístico do Brasil” e os trabalhos de cunho prosódico já realizados a partir do corpus. Na seção (4) mostraremos os procedimentos utilizados para a análise dos dados do corpus e em (5) apresentaremos e discutiremos os resultados obtidos. 2 A Fonologia Entonacional e a entoação da ordem em Português A Fonologia Entonacional considera que a entoação apresenta uma organização fonológica própria (LADD, 1996). O objetivo do modelo é identificar os elementos contrastivos do sistema entonacional que produzem os contornos melódicos dos possíveis enunciados de uma língua e se situa dentro dos princípios do modelo métrico-autossegmental (doravante, AM), proposto, inicialmente, por Pierrehumbert (1980) para a análise das características fonológicas da entoação do inglês. Este modelo entende os contornos melódicos como uma concatenação linear de dois tipos de elementos fonológicos que se associam com pontos prosodicamente marcados do enunciado, que estão associados a determinadas sílabas, ou seja, o modelo considera que há um vínculo entre a acentuação e a entoação, e do papel da estrutura métrica como coluna vertebral dos movimentos melódicos. Do ponto de vista fonológico, os tons podem se associar às sílabas tônicas (acentos tonais) ou ao final dos enunciados (tons de fronteira). As distintas melodias que integram um enunciado são descritas a partir de uma sequência de dois tons: um tom alto (H, do inglês high) e um tom baixo (L, do inglês low). Os movimentos associados ao redor das sílabas tônicas dos enunciados são denominados acentos tonais (pitch accents), que podem ser monotonais (apenas um tom) ou bitonais (dois tons). Para o inglês, Pierrehumbert (1980) apresenta o seguinte repertório de acentos tonais H* e L* (monotonais) e L*+H, L+H*, H+L*, H*+H (bitonais). Os tons de fronteira (boundary tones), por sua vez, são os tons que se alinham aos limites de uma frase (L% ou H%). Beckman & Pierrehumbert (1986) sinalizam em seu trabalho, para a entoação do inglês, a existência de um acento de frase (ou tons de fronteiras intermediárias), que pode não ser de valia para outras línguas (SOSA, 1999). O ato diretivo de ordem, analisado neste trabalho, foi descrito acusticamente no português do Brasil (variedade carioca). Moraes (2008, 2011) descreve o seguinte contorno melódico para a ordem, movimento de F0 com uma subida no pré-núcleo e núcleo descendente, H+H*___H+L*L%. Miranda (2015: 124) descreve o contorno da ordem a partir de uma análise que considera o conjunto de parâmetros acústicos propostos pelo modelo IPO, a saber: a direção, o tamanho e a excursão do movimento e o alinhamento de F0. Segundo a autora, o contorno da ordem apresenta um movimento A entoação da ordem no Português do Brasil: uma descrição dialetal a partir do corpus ALiB JoSS 5(2): 29-45. 2016. ascendente inicial com alinhamento tardio e um movimento descendente final com alinhamento antecipado. 3 O Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) O Projeto “Atlas Linguístico do Brasil” (doravante, ALiB) tem como objetivo a descrição da “realidade linguística do Brasil, no que tange à língua portuguesa, com enfoque na identificação das diferenças diatópicas (fônicas, morfossintáticas, léxico-semânticas e prosódicas) consideradas na perspectiva da Geolinguística” (CARDOSO et alii, 2013). Cunha (2006:67) destaca que a ideia de um atlas linguístico nacional foi lançada em 1952, mas a estruturação efetiva do projeto ocorreu no ano de 1996 com a criação do ALiB, sob coordenação de um Comitê Nacional, presidido pela Professora Doutora Suzana Cardoso, da Universidade Federal da Bahia. Antes do ALiB, outros atlas linguísticos foram publicados. No entanto, estavam restritos ao estudo de cunho regional (apud CARDOSO et alii, 2013), como o Atlas Prévio dos Falares Baianos (1963), o Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais (1977), o Atlas Linguístico da Paraíba (1984), o Atlas Linguístico de Sergipe (1987), o Atlas Linguístico do Paraná (1994), o segundo volume do Atlas Linguístico de Sergipe (2002), o Atlas Linguístico-Etnográfico da Região Sul (2002), o Atlas Linguístico Sonoro do Pará (2004) e o Atlas Linguístico do Amazonas (2004). Cada um desses atlas se diferencia metodologicamente, seja pelo perfil do informante, pelo tipo de questionário ou pela forma como se conduziu a coleta dos dados. O ALiB, mais especificamente, se constitui pela coleta de dados em 250 localidades, tanto nas capitais dos estados como em outras cidades de grande e médio porte, linguisticamente representativas. Com relação aos informantes, foram gravados um total de 1100 informantes, subdivididos por (i) duas faixas etárias: de 18 a 30 anos e de 50 a 65 anos (variação diageracional); (ii) ambos os sexos (variação diassexual) e (iii) dois graus de escolaridade: nível fundamental e nível superior (variação diastrática). Para a coleta dos dados, o Projeto ALiB conta com um inquérito composto por três questionários: (i) Questionário Morfossintático (QMS); (ii) Questionário Semântico-Lexical (QSL) e (iii) Questionário Fonético-Fonológico (QFF), que inclui questões para apuração de diferenças prosódicas, relativas à natureza das frases, que podem ser interrogativas, afirmativas ou imperativas. Apresentamos, no quadro 1 abaixo, as questões presentes no questionário para as frases imperativas, objeto de estudo deste trabalho.

Volume 5
Pages 29-45
DOI 10.20396/JOSS.V5I2.15063
Language English
Journal None

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