Razão em transe: o barroco e o cinema de Glauber Rocha

Abstract

Glauber Rocha foi considerado o autor de um cinema barroco logo apos a realizacao do filme Terra em Transe (1967). Este trabalho discute os possiveis sentidos dessa classificacao no âmbito da estetica e da filosofia da arte. Para tanto, analisamos teorias do barroco produzidas por autores do seculo XX, ressaltando as suas contribuicoes para o estudo das imagens e do cinema. A relacao entre barroco, classicismo e modernidade; a hipotese do realismo cinematografico; o posicionamento subjetivo na experiencia com o filme; a critica da industria cultural e o empenho para afirmar a identidade brasileira e latino-americana sao os temas envolvidos nas intervencoes glauberianas. A pesquisa considera os filmes de Glauber Rocha, mas tambem os seus livros, ensaios, textos e entrevistas. Nesse sentido, destaca-se a comparacao de Eztetyka da Fome, de 1965, e Eztetyka do Sonho, de 1971, como dois manifestos mediados pela realizacao de Terra em Transe, cujas diferencas indicam a particular apropriacao da estetica barroca por Glauber Rocha. Essa orientacao marcou o seu dissenso com certa critica francesa de esquerda pos- 1968, refletida na passagem de Jean-Luc Godard pelo Grupo Dziga Vertov. Naquele contexto, segundo Glauber, a renuncia do espetaculo significava a destruicao do cinema.