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ONICOGRIFOSE EM Puma Concolor MANTIDO EM CATIVEIRO

 
 
 
 

Abstract


Wild life animals are destined to live in ex situ for various reasons, considering that they would not survive back to the nature. In this present study, a case report of onychogrifose in Puma concolor kept in captivity in Mato Grosso State, in Cáceres city. Generaly, animals in captivity often fail to express normal behavioral patterns and end up developing stereotyped behaviors. Furthermore, felines have the need to wear their contractile claw, used for hunting purposes and territorial demarcation. This work points out the need for clinical manifestations to be further studied and clarified, as well as the importance of correct management and environmental enrichment with the objective of increasing the specimen welfare. Palavras-chave: animal cativo, bem-estar, enriquecimento ambiental, onça-parda, recinto Introdução Por força de combate às atividades ilegais, tais como a destruição do habitat natural, caça e captura de animais silvestres destinados ao mercado ilegal, espécimes de vida livre que são apreendidos (Costa et al., 2013) e por vezes, dadas as circunstâncias, não sendo possível a reintrodução no ambiente natural, são submetidos à conservação em cativeiro ex situ. Apesar de garantida a sobrevida desses animais nessa condição, via de regra, recintos, manejo alimentar e zoosanitário não são suficientes para evitar tédio e o estresse dos espécimes em cativeiro que se expressam por meio dos comportamentos estereotipados (De Rouck et al., 2005; Schimidt, 2011). Em felinos, por exemplo, é muito comum o pacing, caracterizado por movimentações continuas de um lado para o outro no recinto, ou seja, um repertorio comportamental diferente quando comparado às condições de vida livre (De Rouck et al., 2005). Em revisão acerca dos felídeos, Silva (2011) informa que estes animais são digitígrados, apoiam sobre os dedos nos pés e cinco dedos nas mãos. A maioria possui garras retráteis que são preservadas quando não estão sendo utilizadas, expostas no instante do ataque ou quando da manutenção da limpeza e afiação na raspagem de troncos de árvores. Ainda, essa raspagem pode estar associada a aspectos comportamentais de marcação nos ambientes naturais que estes animais circulam de acordo com as observações de Vidolin (2004). O objetivo do presente estudo é relatar um caso de onicogrifose de um felídeo silvestre (Puma concolor) mantido em cativeiro, contextualizando as possíveis causas que levaram ao desenvolvimento do quadro. Material e Métodos O caso ocorreu no município de Cáceres-MT em março de 2018, nas dependências do Batalhão de fronteira (BFron), em recinto de aproximadamente 120m2. O exemplar estudado corresponde a um Puma concolor, 18 anos de idade, macho, 36kg de peso, mantido em cativeiro. Trata-se de um estudo descritivo, observacional com informações adicionais dirigidas em inquérito a tratadores e responsáveis. Para imobilização do paciente foi utilizada solução a base de Zolazepan e Tiletamina, injetadas via intramuscular por meio de dardo anestésico. Resultados e Discussão O animal foi resgatado ainda filhote em atividade rotineira do Batalhão de Fronteira em combate ao tráfico de animais silvestres. Considerando costume alimentar artificial e aclimatação a presença humana, a soltura predisporia o animal a adversidades, tais como ser facilmente caçado, abatido ou mesmo desenvolver desnutrição por perda da capacidade de caça. Assim, foi mantido em cativeiro, pela impossibilidade de reintrodução ao ambiente natural, em conformidade com recomendações de centros de controle (IBAMA, 2004). O animal é alocado em recinto de dois pavimentos, dotado de cambiamento, parte coberta e com piso e parte descoberta, piso de terra com grama e presença de árvore de médio porte para sombreamento ao centro. Anexa a árvore há uma mesa de pedra onde o animal permanece com frequência. É visível traçado de trilhas onde o mesmo percorre. Os tratadores observaram que o animal passava a maior parte do tempo deitado e lambendo constantemente a extremidade de membros. A partir da movimentação observaram claudicação e posturas anti-álgicas (cifose e elevação de membros). Diante do quadro e decisão por melhor exame e inspeção, foi contido farmacologicamente e ao ser examinado se constatou um crescimento exagerado das garras chegando a perfurar os coxins palmares e plantares do felídeo. Uma vez constatada essas alterações, foi executado o corte das unhas, seguido de limpeza e a assepsia dos pontos com injúrias perfurocortantes e administração de antibióticos (Cevofecina sódica). Houve retorno normal do plano anestésico após procedimento de contenção farmacológica e aparo de unhas, sendo que nos dias consecutivos o animal voltou a comer e deambular de forma normal. Suspeitou-se de crescimento exagerado por supressão dos padrões comportamentais da espécie considerando a criação em cativeiro, conforme relata Young (2003). Em condições cativas e sob cuidados humanos os animais apresentam menor atividade se comparado ao ambiente natural tendo como consequências agravos a sua saúde e bem-estar. Em investigação cientifica acerca do comportamento natural de Puma concolor, Vidolin (2004) observou comportamento de marcação caracterizado por uma série de scrapes ou arranhões em substratos ao longo de trilhas percorridas, tais como troncos de árvore ou mesmo solo por esta espécie. Segundo o autor, isto é uma forma de comunicação entre os animais. Em revisão a cerca do tema, informa que outros pesquisadores apontam inúmeras hipóteses para explicar esse tipo de comportamento, tais como marcação duradoura em períodos de chuva, onde pegadas e fezes se perdem com maios facilidade, ou sinalização de área para outros felídeos, especialmente em períodos reprodutivos. Esse comportamento no ambiente natural pode favorecer o desgaste das unhas e a supressão de comportamentos típicos consequentes de cativeiro, conforme aponta Young (2003), pode ter contribuído para o crescimento exagerado das mesmas, demandando intervenção. O comportamento de afiação demanda a necessidade de materiais de madeira nas instalações de cativeiro que mantem felídeos, forma de enriquecimento ambientam proposto por Gittleman (1989). Embora exista uma árvore no recinto, o animal não demonstra esse comportamento conforme informações e foi recomendada a inserção de troncos de árvores como tentativa de estimulo ao exercício, sendo o paciente refratário a mudança de comportamento em dois meses de observação. Segundo Crespo et al. (2010), o enriquecimento ambiental é uma ferramenta que pode melhorar a qualidade de vida dos animais, estimulando seus sentidos, provocando instintos naturais e promovendo a sua atividade física. Ressalte-se que todo enriquecimento deve ser monitorado e escolhido cuidadosamente, de modo a adequar a complexidade ambiental às características comportamentais da espécie envolvida (Costa et al., 2013) de forma a não gerar problemas a partir das técnicas adotadas (Luz, 2016). Conclusão Os estudos sobre distúrbios comportamentais, bem-estar animal, enriquecimento ambiental e estratégias de manejo adequadas em animais de cativeiro possibilitam a compreensão de manifestações clinicas, cujas causas não são necessariamente físicas ou mentais e que precisam ser mais esclarecidos e compreendidos. Referências Costa, B. S. A.; Sobrinho, J. P. P.; Fermoseli, A. F. O. 2013. Utilização de diferentes tecnicas de enriquecimento ambiental para primatas (Cebus sp.) em cativeiro. Cadernos de graduação. Ciências biológicas e da saúde 1:155-166. De Rouck, M.; Kitchener, A. C.; Law, G.; Nelissen, N. 2005. A comparative study of the influence of social housing conditions on the behavior of captive tigers (Pantera tigris). Animal welfare 14:229-238. Gittleman, J. L. 1989. Carnivore Behavior, Ecology and Evolution, Ithaca, NY: Comstock Publishing Associates. Schmidt, A. 2011. Curso de Enriquecimento Ambiental com Ênfase em Tráficos de Animais Silvestres. Composição Pessoal. Vidolin, G. P. 2004. Aspectos Bio-Ecológicos de Puma concolor (Linnaeus, 1771), Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) e Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) na reserva natural Santo Morato, Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Dissertação (M.Sc.). Universidade Federal do Paraná, Curitiba. Young, R. J. 2003. Environmental enrichment for captive animals. Oxford: Blackwell Science. p.228.

Volume None
Pages 41-48
DOI 10.22533/AT.ED.6091915045
Language English
Journal None

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