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Da desumanização à criação: a revolução no antropoceno em A nossa alegria chegou, de Alexandra Lucas Coelho

 

Abstract


A nossa alegria chegou (2018) de Alexandra Lucas Coelho é um romance que se posiciona num horizonte de expectativas face ao impacto negativo da ação humana no planeta na era do Antropoceno. Alendabar, espaço totalmente criado ab novo e que não corresponde a nenhuma área geográfica identificável, reifica o impacto da destruição ambiental a que se soma a desumanização resultante de um capitalismo antropofágico e voraz. Esta desumanização concretiza-se, por um lado, na coisificação dos trabalhadores e, por outro lado, na incapacidade de quem detém o poder de sentir empatia pelo seu semelhante. Este artigo discute que, em A nossa alegria chegou, esta violência apenas pode ser combatida por outras formas de violência que são, em si mesmas, essencialmente regeneradoras. A destruição infligida em Alendabar constrói-se literariamente sobre memórias da exploração, do colonialismo e da opressão que estão presentes na experiência do Sul Global, desenhado e intuído a partir da linha do equinócio. Nas reminiscências de visões ancestrais e de experiências de saberes vividos no sul, resgata-se o valor humano expresso em toda a sua plenitude através de uma revolução radical e violenta, mas regeneradora sob memória simbólica da antropofagia ritualística. Eduardo Viveiros de Castro (2002) afirmou que a antropofagia de Oswald de Andrade é uma reflexão metacultural que produziu uma teoria verdadeiramente revolucionária. Em A nossa alegria chegou, é através das imagens dos corpos devorados e libertos que se chega à ressignificação do antropos como parte da utopia do amor físico, real e inteiro.

Volume None
Pages 88-101
DOI 10.24261/2183-816X0733
Language English
Journal None

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