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Co-produtos da extração de vermiculita na produção de mudas de espécies arbóreas da Caatinga

 

Abstract


A degradação ambiental ocorre principalmente nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas do planeta, e resulta de fatores climáticos e antrópicos tais como as atividades pecuárias, de agricultura e de mineração (LIMA, 2004). Especificamente na região semiárida do nordeste do Brasil, que se estende por mais de 980 km2 distribuídos em todos os Estados nordestinos (exceto o Maranhão) e no norte de Minas Gerais, o desequilíbrio ambiental atinge mais de 20 milhões de hectares, o que equivale a mais de 12% da região Nordeste e quase 22% da região semiárida nordestina (MEDEIROS et al., 2012; SILVA et al., 2004). Estes autores informam que este quadro é mais crítico no Ceará e na Paraíba, onde a degradação ambiental é observada em mais da metade dos seus territórios. Esta degradação tem um forte componente humano, pois 21,3 milhões de habitantes habitam essa região, além dos rebanhos constituídos de 23,9 milhões de bovinos, 8,8 milhões de caprinos e 8,0 milhões de ovinos que se alimentam da vegetação nativa (IBGE, 2007; MEDEIROS et al., 2012), sendo por isso considerada a região semiárida mais populosa e com maior grau de antropismo do planeta (DRUMOND et al., 2000). As atividades humanas, tais como a pecuária e a mineração praticadas de maneira inadequada, podem desencadear processos de degradação ambiental, caracterizada pelo empobrecimento da flora e da fauna, erosão do solo e deterioração da qualidade da água dos rios e dos reservatórios (AZEVÊDO, 2011). Especificamente no solo, a densidade e a porosidade da camada superficial são os atributos mais prejudicados e precisam ser melhorados para favorecer a regeneração da vegetação, pois desequilíbrios nesses atributos prejudicam o desenvolvimento do sistema radicular e no estabelecimento e crescimento das plantas (NUNES, 2012). A mineração é uma atividade de forte impacto ambiental, pois implica geralmente na remoção da camada superficial do solo na área da jazida e na deposição superficial de rejeitos (BARRETO, 2001). A exploração da vermiculita, um produto utilizado na construção civil, melhoria das propriedades físicas de solos agrícolas, produção de cerâmica e remediação de solos contaminados por petróleo (NASCIMENTO, 2008). Há várias jazidas em exploração na região Nordeste do Brasil, uma delas no município de Santa Luzia-PB. Em visita à Mineradora Pedra Lavrada, que extrai a vermiculita no município de Santa Luzia, constatou-se a presença de crateras resultantes da extração do minério e a deposição de rejeitos no entorno da unidade de beneficiamento. Estes rejeitos não têm valor comercial que justifique o seu processamento. Este material de menor valor, doravante denominado de coproduto, afeta diretamente o ambiente pela ocupação de áreas de Caatinga, causando poluição visual e soterrando a vegetação nativa. Além disto, provoca efeitos indiretos no ambiente quando é carreado pelo vento e pelas águas pluviais, poluindo a água e assoreando rios e reservatórios. Este material de menor valor comercial é gerado quando a rocha é moída, e a vermiculita é separada de acordo com a sua granulometria. Dos cinco co-produtos gerados, apenas os de menor granulometria (poeira fina e ultrafina) são compatíveis para a produção de mudas, pois as pedras e pedaços menos friáveis do minério não apresentam, por motivos óbvios, potencial para a nutrição de plantas. Estes dois co-produtos provêm de um material friável do grupo das micas que formam silicato hidratado de magnésio, ferro e alumínio e constitui uma fonte de Ca, K e Mg para as plantas (NASCIMENTO, 2008). A utilização destes co-produtos se mostrou adequada para compor até 50% do substrato de produção de mudas de maracujá Passiflora edulis Sims. f. flavicarpa Deg.) (LEITE, 2012) e pinhão manso (Jatropha curcas L.) (TRAJANO, 2010), propiciando ao substrato boas características de porosidade e capacidade de retenção de umidade, o que sugere a possibilidade de seu uso na produção de mudas de outras espécies. As mudas produzidas com estes co-produtos poderiam ser direcionadas para plantios em geral ou para a revegetação de áreas degradadas pela mineração, num círculo virtuoso em que a degradação ambiental provocada pela mineração em si e pela deposição dos co-produtos no ambiente seria parcialmente revertida pela utilização dos co-produtos gerados.

Volume None
Pages None
DOI 10.51859/amplla.cpe535.1121-0
Language English
Journal None

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