Jornal Brasileiro de Ginecologia | 2021

A relevância do tratamento individualizado na endometriose

 
 
 
 
 
 

Abstract


Introdução: A Endometriose (EDM) é uma doença crônica, inflamatória, caracterizada pela presença de tecido endometrial localizado fora da cavidade uterina. O tratamento da EDM pode ser medicamentoso, cirúrgico, ou ainda a associação de ambos. Para definir a conduta ideal, levam-se em consideração: a gravidade dos sintomas, o desejo de gestar, a extensão e localização da doença, a idade, os efeitos medicamentosos adversos e as complicações cirúrgicas. Relato de caso: A.B.K., 21 anos, menarca aos 12 anos, fluxo menstrual intenso e prolongado, com cólicas frequentes. Em 2017, a paciente relata disúria, hematúria e lombalgia associada a dor em fossa ilíaca direita recorrentes, que a levaram a procurar assistência médica diversas vezes em um curto período de tempo, totalizando 11 cistites, com exame de elementos anormais do sedimento positivo, sem realização de urinocultura. Realizou tratamento com diversos antimicrobianos. No oitavo episódio, em 2018, evoluiu para uma pielonefrite, associada a infiltrado gorduroso na bexiga, resultando em uma internação hospitalar de cinco dias. Em investigaçãocom o urologista, realizou ultrassonografia dinâmica das vias urinárias, descartando doenças oriundas do trato urinário. Ainda em 2018, o urologista a encaminhou para um ginecologista. Foram realizadas ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética da pelve, que revelaram EDM em ambos os ligamentos uterossacros. Iniciou-se então o tratamento para a doença com dienogeste 2 mg, por 10 meses. A paciente relatou mudanças bruscas de humor como efeito colateral, o que a fez recorrer a um novo tratamento, em 2019, com uso de desogestrel 150 mcg + etinilestradiol 20 mcg durante seis meses. Ainda assim, apresentou dois episódios de menorreia, sendo o tratamento, portanto, ineficiente para o seu quadro. Em razão da ausência de amenorreia esperada, a medicação foi novamente alterada, dessa vez para desogestrel 150 mcg + etinilestradiol 30 mcg, e atingiu o objetivo de cessar o fluxo menstrual. Entretanto, esse terceiro medicamento, usado durante um ano, ocasionou do segundo mês em diante crises de enxaqueca com aura recorrentes, além da persistência de dor pélvica. Em 2020, a paciente recorreu ao seu último e atual tratamento da EDM, que consiste em quatro implantes hormonais subcutâneos de gestrinona. Atualmente, a EDM encontra-se estagnada, acometendo principalmente o ligamento uterossacro esquerdo, em direção ao nervo hipogástrico. A paciente apresenta diminuição da dor pélvica e da enxaqueca associada à amenorreia, atingindo o alvo terapêutico. Conclusão: A abordagem terapêutica da EDM varia de acordo com a queixa de dor pélvica ou infertilidade. No caso, em função da idade e do desejo de gestar no futuro, a cirurgia foi desconsiderada pela paciente, mesmo com a dificuldade da terapia hormonal. O manejo individual e a valorização das queixas, sinais e sintomas são fundamentais para um bom prognóstico. Dessa forma, a EDM persiste nos dias atuais como um desafio diagnóstico.

Volume None
Pages None
DOI 10.5327/jbg-0368-1416-20211311005
Language English
Journal Jornal Brasileiro de Ginecologia

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