Jornal Brasileiro de Ginecologia | 2021

Abscesso abdominal pós-parto vaginal sem episiotomia com evolução à sepse: um relato de caso

 
 
 
 
 

Abstract


Introdução: O pós-parto é um período que pode acarretar inúmeras complicações, como infecção, abscesso e hematoma, cursando com morbimortalidade materna elevada, especialmente no parto cesárea. Abscessos abdominais são coleções purulentas secundárias a cirurgias, infecção, trauma, classificadas como intra e retroperitoneais ou viscerais. Hematoma pós-parto é uma condição conhecida, porém rara, que decorre principalmente de parto vaginal com episiotomia, sendo um fatorpredisponente para a formação de abscesso, que se não tratado pode evoluir à sepse. Relato de caso: Mulher, 15 anos, sem comorbidades, primigesta, 38 semanas e um dia, com restrição de crescimento intrauterino, induzida a parto vaginal por Misoprostol, sem necessidade de episiotomia. No 2º dia pós-parto, apresentou hematoma próximo ao introito vaginal à esquerda, sem sangramento, e recebeu alta nesse dia. Após 30 dias do parto, procura atendimento com febre, dor abdominal intensa, secreção vaginal purulenta e fétida que, segundo a paciente, ocorria havia três semanas. O exame físico evidenciou sinais de peritonite, duas massas palpáveis, flutuantes e dolorosas na região infraumbilical, que demandavam internação hospitalar. A ultrassonografia sugeriu abscesso na parede abdominal, exames laboratoriais com 27.900 leucócitos, 10% de bastões, hemoglobina de 7 e 690 mil plaquetas. Iniciou a antibioticoterapia e foram solicitadas avaliação cirúrgica e tomografia abdominal, que indicou quatro coleções líquidas sugestivas de abscesso com comunicação entre si, localizadas em fossa ilíaca direita (7 mL) e esquerda (38 mL), na linha média infraumbilical (57 mL) e na reflexão peritoneal mesorretal à direita (1,6 mL). Paciente foi submetida a laparotomia exploradora, constatando-se tanto intercomunicação dos abscessos quanto drenagem destes para a cavidade pélvica em direção ao útero, com saída da secreção pela vagina. Colocaram- se três drenos, um na vagina e dois no abdome. Após a laparotomia, a paciente foi levada à unidade de terapia intensiva (UTI) por um quadro de sepse, onde se administrou antibioticoterapia intravenosa e foi feita a rotina de UTI. Três dias após a admissão na UTI, ela foi para o quarto. Um dia após a alta da UTI, o dreno vaginal teve saída espontânea e os abdominais foram retirados sete dias após a cirurgia, já que não estavam mais drenando secreções. No 12º dia de pós-operatório, a paciente recebeu alta, apresentando sinais vitais estáveis, dor leve, exames laboratoriais normais. Conclusão: A ocorrência de abscesso abdominal no pós-parto é uma complicação infrequente, porém mais prevalente em cesárea do que em parto vaginal. O abscesso, se não manejado precocemente, pode evoluir com mau prognóstico, resultando em sepse, a qual é um dos principais fatores de mortalidade materna. Os sintomas mais comuns desse abscesso são febre, dor e desconforto abdominal, inapetência, peritonite. O diagnóstico por imagem mais eficaz é a tomografia, embora se possa usar a ultrassonografia. O tratamento é baseado na drenagem cirúrgica ou percutânea associada com antibioticoterapia pré e pós-intervenção.

Volume None
Pages None
DOI 10.5327/jbg-0368-1416-20211311006
Language English
Journal Jornal Brasileiro de Ginecologia

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