Em algumas partes do planeta, as variantes da hemoglobina não são apenas um foco de atenção médica, mas também uma arma fundamental na luta contra a malária. Estas variantes, como as da hemoglobina falciforme (HbS) e da hemoglobina C (HbC), parecem proporcionar uma vantagem natural contra a malária falciparum. Os cientistas têm estudado a composição genética destas variantes de hemoglobina e os seus mecanismos biológicos subjacentes para compreender como aumentam a resistência.
As hemoglobinopatias são um grupo de doenças hereditárias do sangue que envolvem a hemoglobina dos glóbulos vermelhos. Para aqueles que vêm de áreas com alta incidência de malária, certas mutações anormais da hemoglobina tornam-se um refúgio para a vida.
A hemoglobina humana normal é um tetrâmero composto por dois pares de cadeias de globina, cada uma carregando um grupo heme contendo ferro. À medida que a vida avança, a síntese destas cadeias alfa e beta é equilibrada para evitar a acumulação excessiva de qualquer uma das cadeias. Durante os estágios iniciais do desenvolvimento embrionário, a hemoglobina do recém-nascido será subsequentemente substituída pela hemoglobina fetal, eventualmente persistindo aos níveis normais de hemoglobina do adulto dentro de alguns meses de vida.
As variações da hemoglobina podem ser divididas em anormalidades estruturais e anormalidades químicas. Mutações estruturalmente anormais na hemoglobina podem levar a alterações em sua estrutura molecular, e algumas podem até levar a doenças graves, como anemia falciforme e doença da hemoglobina C. Essas anormalidades são geralmente detectadas através de métodos de teste baseados em proteínas.
Anormalidades quantitativas geralmente são causadas pela síntese insuficiente de um certo tipo de cadeia de globulina. Por exemplo, a talassemia é um defeito quantitativo comum que resulta numa produção demasiado baixa de cadeias alfa ou beta, resultando num desequilíbrio na proporção entre as cadeias alfa e beta, o que por sua vez conduz à destruição precoce dos glóbulos vermelhos.
A investigação sobre variantes de hemoglobina revela um facto interessante: estas variantes podem proporcionar aos portadores uma vantagem de sobrevivência em áreas onde a malária é endémica.
Esta vantagem de sobrevivência decorre do efeito do parasita da malária na função normal dos glóbulos vermelhos. Mutações específicas da hemoglobina podem tornar os glóbulos vermelhos menos propícios à sobrevivência do parasita. Na África e no Mediterrâneo, as pessoas que carregam o gene da célula falciforme ou o gene da hemoglobina C apresentam taxas significativamente mais baixas da doença do que as pessoas que têm hemoglobina normal.
Algumas hemoglobinopatias parecem ter evoluído para proporcionar vantagens específicas aos seus portadores. Os estudiosos sugeriram que estas variantes podem ser importantes para a sobrevivência dos portadores em áreas endémicas de malária. Ao longo de muitas gerações de seleção natural, a presença destes genes mutados aumenta em certas populações, destacando a sua adaptabilidade.
No entanto, embora estas variantes de hemoglobina ofereçam benefícios antimaláricos, ainda existem alguns riscos potenciais para a saúde. Por exemplo, pacientes com doença falciforme podem enfrentar anemia grave e outras comorbidades. Os tratamentos atuais incluem o transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH), que pode restaurar a produção normal de hemoglobina em um subconjunto de pacientes.
Um estudo publicado na Scientific Reports aponta que a compreensão dos mecanismos pelos quais estas variantes de hemoglobina conferem resistência à malária é fundamental para o desenvolvimento de tratamentos futuros.
Agora, através de estudos genómicos destas variantes, a comunidade científica está a avançar no sentido de encontrar tratamentos mais eficazes para as hemoglobinopatias. Estes estudos são particularmente importantes em áreas do mundo ainda ameaçadas pela malária.
À medida que exploramos estes mistérios genéticos, não podemos deixar de perguntar: Será que estas aparentemente infelizes mutações da hemoglobina realmente trazem esperança para o futuro da humanidade?